sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Como Escrever Emoções II - Dicas de Equilíbrio
ESCREVER EMOÇÃO NÃO VERBAL:
EVITANDO PROBLEMAS COMUNS
É fácil ver o poder da emoção e como ela conecta o leitor à história e aos personagens. A dificuldade está em escrever bem. Cada cena deve atingir um equilíbrio entre mostrar muito pouco sentimento e mostrar muito. Acima de tudo, a descrição emocional precisa ser nova e envolvente. Essa é uma exigência difícil para escritores que tendem a reutilizar os mesmos indicadores emocionais indefinidamente.
Por isso, nesse post vamos dar algumas dicas sobre o balanceamento das emoções no texto. Antes de entrarmos diretamente nas emoções e nas entradas de indicadores emocionais, queremos que vocês estejam afiados na maneira de utilizá-los.
- NARRANDO
Por definição, a emoção não verbal não pode ser contada. Tem que ser mostrada. Isso torna difícil escrever, porque contar é mais fácil do que mostrar. Aqui está um exemplo:
Um trecho em que simplesmente se diz “Isadora está com raiva” é bastante fácil de escrever, mas não tão fácil de ler. Os leitores são inteligentes e podem descobrir as coisas por si próprios. Eles não querem que a cena lhes seja explicada, que é o que acontece quando um escritor conta como um personagem se sente. Outro problema de contar é que isso cria distância entre o leitor e seus personagens, o que raramente é uma boa ideia. Como escritor(a), você não quer que o leitor apenas veja o que está acontecendo; você quer que eles sintam a emoção e a vivenciem junto com o personagem. Para conseguir isso, os escritores precisam mostrar as respostas físicas e internas do personagem, em vez de declarar a emoção abertamente.
Através do uso de detalhes sensoriais, uma comparação bem escolhida, verbos específicos e dicas corporais que correspondem à emoção apresentada, os leitores poderão ver que seu personagem está com raiva, mas eles também irão sentir isso – na tensão de sua coluna e no arranjo barato de uma bolsa que quebra ao apertar, ou na força necessária para enviar uma cadeira voando pela sala simplesmente pelo ato de ficar em pé.
Mostrar dá mais trabalho do que contar, como a contagem de palavras por si só vai indicar, mas vale a pena aproximar o leitor do personagem e ajudar a criar empatia. De vez em quando, é aceitável dizer ao leitor o que o personagem está sentindo: quando você precisa passar informações rapidamente ou quando precisa de uma frase nítida para transmitir uma mudança de humor ou atenção. Mas nas outras noventa e nove vezes em cem, faça um trabalho extra e você colherá os benefícios da demonstração.
- EMOÇÕES CLICHÊS
- O sorriso que se estende de orelha a orelha
- Uma única lágrima se acumulando no olho antes de escorrer pela bochecha
- Joelhos trêmulos que batem um no outro
Os clichês da literatura são difamados por um bom motivo. Eles são um sinal de escrita preguiçosa, resultado de se decidir pela frase fácil porque inventar algo novo é muito difícil. Os escritores muitas vezes recorrem a clichês porque, tecnicamente, esses exemplos cansativos funcionam. Esse sorriso implica felicidade tão certamente quanto bater os joelhos indica medo. Infelizmente, frases como essas carecem de profundidade porque não permitem uma gama de emoções. Essa única lágrima diz a você que a pessoa está triste, mas quão chateada ela está? Triste o suficiente para chorar? Gritar? Desmoronar? Ela vai estar chorando daqui a cinco minutos? Para se relacionar com seu personagem, o leitor precisa saber a profundidade da emoção que está sendo vivida.
Ao escrever uma determinada emoção, pense em seu corpo e no que acontece com ele quando você se sente assim. Excitação, por exemplo. O coração dispara e o pulso acelera. As pernas saltam. A fala de uma pessoa metódica torna-se rápida com palavras fluidas. A voz fica cada vez mais alta. Para qualquer emoção, existem literalmente dezenas de mudanças internas e externas que, quando referenciadas, mostrarão ao leitor o que seu personagem está sentindo. As listas de sinônimos nesta série de posts são ótimas para fornecer ideias, mas suas próprias observações são igualmente úteis. Observe as pessoas – espécimes reais de carne e osso no shopping ou personagens de filmes. Observe como elas agem quando estão confusas, oprimidas ou irritadas. O rosto é o mais fácil de notar, mas o resto do corpo é igualmente revelador. Não negligencie as mudanças na voz, na fala ou no comportamento e postura gerais de uma pessoa.
Em segundo lugar, conheça seu personagem. Os indivíduos fazem as coisas de maneiras diferentes – até mesmo atividades mundanas como escovar os dentes, dirigir ou preparar o jantar. As emoções não são exceção. Nem todo personagem grita e joga coisas para o alto quando está com raiva. Alguns falam em voz baixa. Outros ficam em silêncio total. Muitos, por vários motivos, encobrem sua raiva e agem como se não estivessem nem um pouco chateados. Seja o que for que seu personagem esteja sentindo, descreva a emoção de uma forma que seja específica para ele ou ela, e você quase certamente escreverá algo novo e evocativo.
- MELODRAMA
Se todas as emoções fossem de intensidade média, seriam mais fáceis de descrever. Mas as emoções variam em intensidade. Considere o medo, por exemplo. Dependendo da gravidade da situação, uma pessoa pode sentir qualquer coisa, desde mal-estar, ansiedade, paranoia ou terror. Emoções extremas exigirão descritores extremos, enquanto outras são relativamente sutis e devem ser descritas como tal. Infelizmente, muitos escritores cometem o erro de presumir que, para ser emocionante, a emoção deve ser dramática. Pessoas tristes deveriam começar a chorar. Personagens alegres devem expressar sua alegria pulando para cima e para baixo. Este tipo de escrita resulta em melodrama, o que leva a uma sensação de descrença no leitor porque, na vida real, a emoção nem sempre é tão demonstrativa.
Para evitar o melodrama, reconheça que as emoções seguem uma classificação, do moderado ao extremo. Para cada situação, saiba onde seu personagem está ao longo dessa classificação e escolha os descritores apropriados. Assim como as emoções extremas exigem indicadores extremos, as emoções temperadas devem ser expressas sutilmente. Os indicadores de emoções intermediárias estarão em algum lugar no meio. Também é muito importante que seu personagem siga um arco emocional suave.
A menos que seu personagem tenha uma razão psicológica para fazer isso, ele ou ela não deve pular da placidez para a depressão em questão de segundos após perder alguém querido. Uma progressão realista seria passar do contentamento ao choque, depois à descrença e, finalmente, ao luto. Feito com atenção, este arco emocional pode ser mostrado com relativamente poucas palavras. Certifique-se de que os sentimentos do seu personagem progridam de forma realista. Mapeie a jornada emocional dentro da cena para evitar melodrama não intencional.
Tudo isso não quer dizer que a vida real não produza emoção extrema. Nascimento, morte, perda, mudança – algumas situações exigem respostas intensas que podem durar algum tempo. Muitos escritores, em uma tentativa admirável de manter a credibilidade, tentam recriar esses eventos em tempo real. Isso resulta em longos parágrafos ou mesmo páginas de grande emoção e, inevitavelmente, melodrama. Embora a vida real possa sustentar esse tipo de intensidade por longos períodos de tempo, é quase impossível para a palavra escrita fazer isso de uma forma que os leitores aceitem.
Nessas situações, evite o melodrama abreviado. Este método é frequentemente usado para outros cenários da vida real – conversas, por exemplo. A conversa fiada é deixada de fora para manter o ritmo avançando. Tarefas mundanas também são interrompidas, porque o leitor não precisa (ou quer) ver o carro inteiro lavado, um pedaço de cada vez, enquanto Bruno pondera um problema no trabalho. Da mesma forma, cenas emocionais extensas devem ser longas o suficiente para transmitir as informações apropriadas, mas não tanto a ponto de perder a audiência. Escreva bem a emoção, desenvolva empatia em seu leitor, maximize as palavras que você usa, mas não exagere nas boas-vindas.
- EXCESSO DE CONFIANÇA NO DIÁLOGO OU NOS PENSAMENTOS
Como a escrita não verbal é tão difícil de dominar, faz sentido que alguns escritores a evitem, optando por confiar mais em pensamentos ou diálogos para expressar o que um personagem está sentindo. Mas o excesso de confiança em qualquer um dos dois leva a problemas.
A escolha de palavras é importante para expressar emoções, mas só vai até certo ponto. Depois disso, o escritor é reduzido a técnicas fracas, como dizer ao leitor o que está sendo sentido (estou tão feliz) e usar pontos de exclamação em excesso para mostrar intensidade. Sem nenhuma ação para interromper o diálogo, a conversa também soa artificial.
Por outro lado, transmitir emoções apenas por meio dos pensamentos também tem seus problemas. O diálogo interno é uma parte importante de qualquer história. Existem muitas cenas e cenários onde um parágrafo ou mais de contemplação é apropriado. Para a maioria das cenas, a emoção é transmitida de forma muito mais eficaz por meio de uma mistura de diálogo, pensamentos e linguagem corporal.
Ao expressar emoções, varie seus veículos, usando técnicas verbais e não verbais para obter o máximo de impacto.
- MAU USO DO BACKGROUND PARA AUMENTAR A EMPATIA DO LEITOR
Cada personagem é único, influenciado em grande parte por eventos do passado. Uma maneira infalível de ganhar empatia do leitor é revelar por que um personagem é como é. Veja o filme Tubarão, por exemplo. No primeiro vislumbre que temos do caçador de tubarões Quint, ele está passando suas unhas não muito limpas em um quadro-negro. Dificilmente cativante. Conforme o filme avança, a antipatia do espectador é justificada por suas maneiras grosseiras e intimidação do jovem Sr. Hooper. Mas quando ele conta sua história do naufrágio do Indianápolis e seus cinco dias e noites pisando em água com tubarões, o espectador entende como ele ficou tão durão. Seu comportamento não mudou e ainda não gostamos muito dele, mas agora temos empatia por ele. Desejamos a ele algo melhor do que a vida lhe serviu.
Este é apenas um exemplo da importância do brackground (ou do passado) na construção da empatia do leitor. As pessoas são produtos de seu passado. Como autor, é importante que você saiba por que seus personagens são como são e repasse essa informação aos leitores. No entanto, é difícil saber o quanto compartilhar. Muitos escritores, na tentativa de ganhar empatia do leitor, revelam demais. O excesso de background diminui o ritmo e pode entediar os leitores, tentando-os a pular para as coisas boas. Sem dúvida, o caminho de Quint para a rispidez e a loucura continha mais do que um evento infeliz, mas o resto não precisava ser compartilhado. Essa única história, artisticamente contada, foi o suficiente.
Para evitar o uso de muitas histórias do passado, determine quais detalhes do passado de seu personagem necessitam ser compartilhados. Distribua-os através do contexto da história atual para manter o ritmo em movimento. Para se inspirar, considere seus personagens literários favoritos, mesmo aqueles que podem ter sido desagradáveis. Revisite suas histórias para ver quais pistas do passado o autor decidiu revelar e como isso foi feito.
Background é difícil de escrever bem. Como acontece em muitas áreas da escrita, o equilíbrio é a chave.
Espero que essas dicas ajudem vocês, escritores e escritoras, a transmitir as emoções nos seus livros de maneira que o leitor não consiga largar suas páginas. Os próximos posts desta série irão conter as emoções e as entradas “gatilhos” que vocês podem usar para descrevê-las da melhor forma possível.
By Débora
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